Sabe aquele sentimento incrível quando você está no topo de uma montanha e parece que o mundo inteiro está aos seus pés? É como se você fosse o rei ou a rainha de tudo que está vendo, e a sensação é simplesmente indescritível?
Mas e, quando nos encontramos em um estado oposto, quando o sentimento de fragilidade nos acompanha? Como a perspectiva visual, emocional e psicológica é transformada nesses momentos de introspecção e vulnerabilidade? Como essas duas vertentes opostas moldam não apenas nossa percepção interna, mas também a maneira como enxergamos o mundo ao nosso redor? É exatamente nessa interseção entre a percepção e a emoção que a as artes visuais desempenham um papel interessante.
A linguagem visual é um poderoso meio de influenciar nossas emoções e a maneira como percebemos o mundo ao nosso redor. Na fotografia e no cinema, dois termos específicos definem esse poder visual e essa expressão emocional através do ângulo da câmera: o Plongée e o Contre-Plongée. Em francês, Plongée significa "mergulho" ou "queda" e ambas denominações descrevem enfoques que nos transportam para um universo de sensações e significados incomuns.
A Plongée é um ângulo em que o observador está posicionado acima do objeto ou da cena, olhando para baixo. Essa perspectiva oferece uma sensação de superioridade, poder e domínio sobre o assunto retratado. Ao registrar uma imagem com uma Plongée, conferimos à cena uma sensação de controle e submissão. Quando essa perspectiva é usada, o autor pode evidenciar autoridade e superioridade e conseguir dar a impressão de que o objeto é menor, menos importante ou inferior.
*Escola de Fotógrafos Cegos
Por outro lado, a Contre-Plongée coloca o ponto de vista posicionado abaixo do objeto ou cena, olhando para cima. Esse ângulo é usado para criar uma sensação de superioridade, grandiosidade, autoridade ou importância do objeto ou da pessoa retratada. Ao ilustrar um assunto de baixo para cima, podemos dar a impressão de que está acima de nós, ocupando uma posição de destaque e poder.
Esses conceitos têm sido habilmente explorados ao longo da história das artes visuais. Caravaggio, por exemplo, em sua obra "A Vocação de São Mateus" (1599-1600), que faz parte da série de obras encomendadas para a Capela Contarelli na Igreja de San Luigi dei Francesi, em Roma, retrata a cena bíblica em que Jesus chama São Mateus para segui-lo. A composição apresenta uma iluminação dramática vinda de cima, destacando o gesto apontado de Jesus e realçando a reação surpresa e hesitante dos personagens ao redor da mesa.
Embora essa obra não seja uma Plongée clássica no sentido estrito, a iluminação e o ângulo escolhidos por Caravaggio dão a sensação de uma perspectiva superior, criando um impacto visual marcante e ressaltando a importância do momento retratado. No cinema, entre outros diretores, Alfred Hitchcock utiliza a plongée e a contre-plongée para criar tensão, medo e admiração em seus filmes. Essas escolhas artísticas revelam a profunda conexão entre a perspectiva visual, as emoções e a narrativa.
Ao explorar as nuances entre a Plongée e a Contre-Plongée, somos convidados a questionar nossas próprias percepções e emoções. Como os ângulos de visão podem despertar em nós sentimentos de altivez ou submissão? Como a perspectiva visual molda nossas interpretações e respostas emocionais a uma imagem ou cena? Essas questões nos conduzem a uma apreciação mais profunda da linguagem visual e de sua capacidade de nos mover e inspirar.
A interação entre a perspectiva visual e as emoções é um terreno fértil para a exploração artística. Por meio desses ângulos, a fotografia, o cinema e demais artes visuais nos conduzem pelos domínios sensoriais e psicológicos. À medida que adentramos esse universo, somos desafiados a questionar nossas próprias percepções e a devanear pela hipno-magia da estética narrativa.
Escrito por Angela Rosana, saiba mais sobre mim aqui.
Os créditos aos fotógrafos e artistas constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram.
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Publicação no Instagram em 18/07/2023
Excelente reflexão sobre como os ângulos da imagem traduzem sentimentos distintos! Adorei!