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A ambiguidade na fotografia age como uma agulha penetrando a bolha da nossa complacência perceptual. Sem pedir licença, ela questiona a nossa tendência de classificar as complexidades da identidade humana de forma reducionista. A imagem ambígua não apenas perturba nossas convenções visuais; ela desfia o próprio tecido das narrativas que enfaixam nossa compreensão da realidade.
Quando essa agulha nos espeta, a primeira gota de dúvida se infiltra. Talvez nos perguntemos: "Por que essa imagem me deixa desconfortável?" O desconforto, claro, não é um acidente. Ele é meticulosamente orquestrado, uma pincelada de caos em uma tela aparentemente ordenada. Não estamos apenas sendo solicitados a ver, mas também a enxergar — um convite para atravessar o espelho e encontrar não apenas uma imagem ambivalente, mas um universo de possibilidades enigmáticas.
Assim, ao olharmos para uma cena aberta à interpretação — seja ela resultado de composições deliberadamente provocativas, perspectiva, iluminação, foco ou a dinâmica entre os elementos na moldura — não estamos apenas vendo uma imagem, estamos confrontando um questionamento sobre como e por que percebemos o mundo da forma que o fazemos.
Isso, por sua vez, desencadeia uma série de reflexões que têm o poder de abalar as fundações de nossas certezas mais arraigadas, lançando-nos em um território onde a verdade não é fixa, mas maleável e perpetuamente em revisão. No existencialismo, a verdade é muitas vezes vista como uma construção humana, sujeita a questionamento e revisão contínua. Este é o terreno onde o "absurdo" floresce - a incompatibilidade entre nossos anseios por ordem e significado e a aparente indiferença ou caos do universo.
Fotografias ambíguas servem como catalisadores de questionamentos, que puxam o tapete sob nossos pés, desorientando nossas bússolas morais e cognitivas. Este tipo de cena nos lança em um turbilhão de dúvidas e incertezas, nos fazendo questionar a rigidez dos sistemas de crenças que usamos para decifrar o mundo. O impacto se estende além dos pixels e molduras, reverberando na rede complexa de histórias e sistemas de valores que moldam nossa visão de mundo. Se uma simples imagem pode ser tão disruptiva, o que isso diz sobre a solidez dos alicerces sobre os quais construímos nossas certezas?
Talvez a fotografia ambígua seja menos um quebra-cabeça a ser resolvido e mais uma chave para destrancar as portas que preferiríamos manter fechadas. Ela nos convida a adentrar um labirinto onde as perguntas são as verdadeiras protagonistas, onde as respostas são múltiplas e muitas vezes conflitantes e onde a verdade, questionável em sua própria existência, é uma entidade a ser constantemente desenterrada e reexaminada.
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Escrito por Angela Rosana, saiba mais sobre mim aqui.
Os créditos aos fotógrafos e artistas constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram.
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Publicação no Instagram em outubro 2023
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