É interessante notar como as convenções tradicionais da arte sempre buscaram retratar alguma forma de perfeição. Na fotografia, isso é evidente tanto na obsessão pela composição quanto na busca contínua por nitidez. É como se a excelência técnica fosse o único caminho para transmitir verdade e significado, uma espécie de missão sagrada para registrar a realidade em seu estado mais puro.
No entanto, o cenário artístico contemporâneo vem desafiando essas noções preconcebidas. Uma nova abordagem estética, chamada de "fotografia impura" , tem ganhado espaço e relevância. Não se trata de permitir que imperfeições apareçam; é uma busca ativa por elas.
Movimentos borrados, ruído, desfoque, abstrações e outros elementos que seriam considerados "defeitos" em um paradigma mais tradicional, são empregados para comunicar emoção e significado de forma mais direta. É uma provocação para encontrar beleza, significado ou ressonância emocional em contextos inesperados, e muitas vezes serve para questionar as normas sociais ou artísticas estabelecidas.
Quando interagimos com a fotografia impura, passamos de simples receptores a participantes ativos na criação de significado. Participamos da narrativa lendo nas entrelinhas todo o nosso universo de sensações e interpretações particulares. Isso amplia nosso papel como espectadores e reconfigura a nossa compreensão sobre o que a fotografia, enquanto forma de arte, pode ser e fazer.
As escolhas técnicas do fotógrafo em termos de recursos estilísticos funcionam como um meio de provocar uma resposta emocional. Essa reciprocidade gera um tipo de diálogo não verbal entre o artista e o observador, um espaço onde a mensagem está simultaneamente na imagem e na experiência que ela proporciona. A ambiguidade e a subjetividade oportunizam que projetemos nossas próprias interpretações e sentimentos na obra, de formas distintas em diferentes gêneros fotográficos, desde paisagens até retratos e fotografia de rua, ampliando o alcance dessa estética peculiar.
Mas, para além do cenário contemporâneo, o que essa mudança de paradigma pode nos dizer sobre o futuro da fotografia e, por extensão, das artes visuais? A ascensão da fotografia impura se impõe para além de um desvio temporário e se lança como indicação de uma mudança tectônica de como entendemos e valorizamos a arte. Ela nos chama a reconsiderar o que chamamos de "perfeito" e a explorar a riqueza que se encontra na "imperfeição".
A questão subjacente talvez seja a de que perseguir a 'imagem perfeita' pode nos levar a um impasse criativo ou mesmo a uma estagnação artística. Ao incorporar deliberadamente as falhas e irregularidades em nossa obra, rompemos com os limites técnicos e adicionamos novas camadas de significado e emoção ao nosso trabalho.
Talvez, nesse ato consciente de desobedecer às normas estabelecidas, encontremos uma forma mais autêntica de captar as diversas dimensões da nossa individualidade e compreender seu poder reverberante, capaz de moldar e transformar o a realidade que nos envolve.
Escrito por Angela Rosana, saiba mais sobre mim aqui.
Os créditos constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram.
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Publicação no Instagram em outubro de 2023
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