A Simbologia Inquietante do Fumo na Fotografia
- Angela Rosana
- 8 de out. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de nov. de 2023
A visão de uma espiral de fumaça elevando-se no ar pode sugerir emoções, pensamentos e associações, frequentemente contraditórias. Como objeto de fascínio artístico, a fumaça e o ato de fumar entrelaçam-se com a nossa compreensão de cultura, estética e moralidade de maneira complexa e às vezes desconfortável. Mas o que é que torna essas imagens tão atraentes? É mais do que simplesmente estética ou há camadas de significado que atravessam fronteiras culturais e normas sociais?
Ao discutir a iconografia da fumaça e do fumo na fotografia, uma analogia que poderia ser tentadora, mas que deve ser cuidadosamente evitada, é vê-las como uma espécie de "janela para a alma". O que poderia ser uma visão simplista e espiritualizada realmente faz um desserviço ao quão multifacetado esse simbolismo pode ser. Então, deixemos os clichês de lado.
Pense no cinema noir americano, onde o cigarro frequentemente é mais do que um acessório e também ostenta uma relevância alegórica. Ele serve para caracterizar o herói ou a heroína como figuras complexas, muitas vezes moralmente ambíguas e funciona como um narrador silencioso dessa complexidade.
O ato de fumar torna-se um meio pelo qual o personagem encontra um espaço para introspecção, um fôlego solitário em uma realidade opressiva. Vemos aqui um gesto carregado de intenção, um intervalo simbólico que oferece alívio em um mundo frequentemente opressor.
Na fotografia, a fumaça expressa a natureza passageira do momento, uma qualidade que também encontramos na fumaça exalada de um cigarro, cachimbo ou charuto. Em esferas culturais diversas, esse fenômeno encontra ressonâncias interessantes em práticas religiosas, onde a fumaça é um veículo para o transcendente. Pode ser o incenso balançado em um turíbulo em cerimônias católicas, os aromas ascendentes em templos budistas, ou a fumaça purificadora em rituais de defumação de tradições afro-brasileiras.
Em todos esses contextos, a fumaça vai além do seu efeito visual; ela também expressa a nossa contínua busca por algo que ultrapassa a experiência imediata. A fumaça capturada em imagens fotográficas pode, assim, reverberar com essas diversas simbologias, algumas profundamente arraigadas em rituais antigos, convocando o espectador a ponderar sobre os múltiplos significados e implicações, tanto sagrados quanto profanos, que ela pode inspirar.
Ao se mergulhar nesses dois exemplos tão díspares, percebe-se que a fumaça serve como um meio para explorar não apenas a cultura, mas também nossos dilemas existenciais. Mas é fundamental que essa discussão não ignore o contexto contemporâneo, em que o tabagismo é uma prática amplamente desencorajada por suas consequências na saúde pública. Ao contrário dos períodos em que o fumo era sinônimo de status ou romantismo, hoje ele traz consigo uma série de conotações negativas.
Esse contraste entre a imagem romântica e a realidade brutal nos lembra que o ato de fumar é uma questão polêmica, enredada em uma teia complexa de ética pessoal e social. No mundo da arte e da fotografia, essas imagens podem servir para provocar, questionar e desafiar nossas noções pré-concebidas. Contudo, a beleza estética ou o simbolismo profundo não anulam os perigos tangíveis que vêm com o fumo. Esse paradoxo é o que torna a representação do fumo em imagens tão complexa e intrigante.
Então, o que dizer dessa dualidade que nos faz fascinados por imagens que, em um nível mais prático, sabemos ser prejudiciais? Talvez a chave para desvendar essa atração esteja em nossa própria ambivalência sobre o que é belo, o que é moral, e como as duas coisas frequentemente estão em conflito.
As imagens de fumaça e fumo nos forçam a confrontar o desconforto dessa ambivalência, desafiando-nos a reexaminar nossas próprias concepções de estética e ética. E, ao fazê-lo, talvez possamos explorar os complexos terrenos onde o que nos atrai se cruza, se confronta ou até se alinha com o que consideramos certo.
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Escrito por Angela Rosana, saiba mais sobre mim aqui.
Os créditos aos fotógrafos e artistas constam nas imagens, com links para os respectivos perfis no Instagram.
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Publicação no Instagram em outubro de 2023
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